11:53 - 21 de novembro de 2025.

Morre Fernando Carvalheira aos 92 anos, em Barra d...

Morre Fernando Carvalheira aos 92 anos, em Barra do Piraí

 em Vassouras

Empresário carismático, ex-prefeito foi velado no Vassouras Country Club que ajudou a fundar nos anos 1960

 

O empresário Fernando Francisco Carvalheira, que enfrentava um câncer, morreu na terça-feira, dia 18, na Santa Casa de Misericórdia de Barra do Piraí. Fernando Carvalheira sentiu-se mal na segunda-feira e telefonou para um dos filhos, Cláudio. “Na véspera da morte, papai me ligou e disse que estava indo embora. Então, nós procuramos a Santa Casa para que ele fosse internado”, conta Claudio Carvalheira. Aos 92 anos, deixa viúva a terceira esposa, dona Nádia, além de três filhos. Fernando Carvalheira foi velado no Vassouras Country Club e sepultado no Cemitério Municipal, no Campo Limpo, na manhã da quarta-feira, dia 19.

 

Fernando Carvalheira foi um dos personagens mais interessantes da segunda metade do século XX em Vassouras. Filho de Pedro Francisco Carvalheira, foi sobrinho do patriarca Nilo Francisco Carvalheira, o Seo Nilo, fundador da União Carvalheira, uma das maiores empresas vassourenses de todos os tempos, que chegou a ter filiais em todas as regiões do estado do Rio de Janeiro. Desde jovem atuou com o tio. Administrou a loja de Barra do Piraí, atuou ainda em Itaguaí antes de fazer carreira como empreiteiro. Era conhecido como exímio vendedor. “Conversei ontem com o ex-prefeito Pedro Ivo da Costa e ele me disse que não conheceu um vendedor melhor que ele. Soube aproveitar a vida. Trabalhou muito, se dedicou ao futebol. Movimentou o esporte em Vassouras. Foi o baluarte da fundação do Vassouras Country Club e deixou um legado também na vida pública”, lembra o sobrinho, o ex-vice-prefeito Ricardo Carvalheira.

 

O empresário Nílton Carvalheira, o Niltinho, primo de Fernando, não economiza adjetivos ao falar do primo mais velho. “Fernando foi o melhor ser humano que eu conheci na vida”. Bom de bola, Fernando foi jogador e, depois, presidente do Esporte Clube Vassourense, uma de suas paixões. “Jovem, eu joguei no Vassourense. Mas fiquei pouco tempo e fui para o rival, o Fluminense. Ele ficou muito bravo comigo”, recorda-se. “Mas tem uma história que você não pode deixar de citar aí. Vassourense e Fluminense, jogo importante, decisivo, cidade toda mobilizada. O camisa 10 do Fluminense era o Abílio. Craque. Indo para o estádio, o Fernando cruza com ele e oferece carona. O Abílio diz que não pegaria bem ele entrar no carro, afinal o Fernando era presidente do Vassourense. Mas ele acabou entrando, com a promessa de o Fernando deixar ele antes do estádio para a torcida não ver os dois juntos. Fernando foi para Paraíba do Sul e deixou o Abílio lá. Ele não jogou e o Vassourense foi campeão. Fernando dizia que se não fizesse isso, Abílio iria acabar com o jogo”, conta Niltinho, entre sorrisos dos mais velhos e perplexidade dos que não conheciam a história.

Carvalheira em seu aniversário de 90 anos com o filho Cláudio, o Camarão

 

Presidente do Vassouras Country Club, foi Marcelo Castilho quem sugeriu à família realizar na sede social o velório de Carvalheira. “Ele foi o pioneiro, o idealizador. Doou o terreno para que o clube se instalasse aqui. Mais tarde, o clube pagou pelo terreno, mas sem o seu empenho o clube não surgiria. Ele e mais cinco idealizaram o clube”, comenta Castilho. A criação do Vassouras Country Club deu a Vassouras o seu mais moderno clube social e valorizou a rua, que ganhou ares de endereço nobre quando passou a ser chamada pelo vassourense de “rua da piscina”.

 

Fernando com Marcelo Castilho: Reconhecimento do Vassouras Country Clube veio em vida

 

Disposto a recuperar a imagem do clube, o presidente Marcelo Castilho realizou há alguns anos uma homenagem a Fernando Carvalheira no aniversário do Country. Fernando Carvalheira adorou. Desde então, fazia questão de participar das festas pelo aniversário de fundação. “Ele fazia questão. Vinha de Barra do Piraí todo ano e participava com muita alegria de nossa festa”, recorda o presidente.

 

O velório de Fernando Carvalheira foi apenas o terceiro realizado na história do Vassouras Country Club. Antes, foram velados ali Luiz Capute, pai do ex-presidente Marco Antonio Vaz Capute, e Vítor Bezerra, o Vitinho, que era vice-presidente quando veio a falecer. Os amores de Fernando no esporte vassourense tiveram destinos distintos. Enquanto o EC Vassourense parece ter desaparecido de vez com a morte de Roberto Ganhadeiro, presidente que sonhava com a sua retomada, o Country segue forte mesmo em tempos de abandono dos clubes sociais de Vassouras e região. Fernando carregava outra paixão esportiva: o Botafogo de Futebol e Regatas. “Ele notou que estava chegando a hora de se despedir e disse que queria morrer com a camisa do Botafogo. Ele tinha quatro camisas do clube e ficou revezando essas camisas nas últimas semanas de vida. Morreu com a camisa alvinegra”, diz Camarão.

 

No salão do Country, entre as coroas de flores – uma delas enviada em nome do amigo e ex-prefeito Pedro Ivo –, Fernando Carvalheira foi velado. Nas conversas, diversos causos eram lembrados. Nem todos publicáveis. Nas conversas, a generosidade de Fernando era sempre destacada. Assim como a boemia, o talento para conhecer tudo sobre construção civil e o enorme carisma político. Antes de escolher Barra do Piraí para passar as últimas décadas de sua vida, Fernando Carvalheira foi adversário e aliado dos grandes nomes da política de Vassouras do último quarto de século XX. Foi vice-prefeito de Carlos Eugênio Mexias. Assumiu a prefeitura nos últimos meses do primeiro mandato de Mexias, em 1971, por problemas de saúde do titular. “Ele abriu uma ponte, a cabeceira era apertada, a cidade sofria com enchentes e ele abriu, meio que na marra, essa cabeceira. Respondeu por isso judicialmente até pouco tempo atrás. Foi ele também que abriu a região onde hoje fica o Barreiro. Entrou com o trator, abriu tudo”, comenta o sobrinho Ricardo.

 

Fernando celebrando a vida com familiares em um aniversário recente

 

Em 1982 era o favorito para suceder a Pedro Ivo da Costa. Na época, Pedro Ivo e Carlinhos Mexias eram lideranças do PMDB. O sistema eleitoral era diferente e os partidos podiam lançar mais de um candidato à Prefeitura. Vencia o partido que somasse mais votos entre todos os seus candidatos. Estrategista, Fernando foi atrás do ex-prefeito Narciso Silva Dias, que afirmava estar aposentado da vida pública. Fernando o convenceu a disputar a eleição pelo PDS. “A candidatura do Narciso cresceu tanto que impediu a vitória do Fernando”, conta Ricardo Carvalheira.

 

Ele voltaria a disputar uma eleição em 1988, na sucessão de Narciso. Desta vez como vice-prefeito na chapa de Pedro Ivo da Costa, no PMDB. A dupla era apontada como favorita, mas o crescimento das candidaturas do empresário Cesar Furtado e do ainda desconhecido Severino Dias embaralharam o jogo. Catapultado pelos votos da zona rural, Severino Dias venceria a eleição mais surpreendente da história recente de Vassouras.  A derrota nas urnas não impediu que Fernando se tornasse amigo do prefeito nos anos seguintes.

 

Generoso, boêmio, carismático, amigo, Fernando Carvalheira foi sepultado na manhã calorenta da quinta-feira, 19 de novembro, no Cemitério Municipal. Um pouco da história recente de Vassouras se foi com ele.

 

Bar do Fernando: a boemia homenageada na festa dos 90 anos

Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Veja também