08:27 - 26 de dezembro de 2024.

Tragédias familiares chocam Vassouras no momento m...

Tragédias familiares chocam Vassouras no momento mais agudo da pandemia

• Mortes disparam e cemitérios têm problemas para realizar novos enterros; abril já é o mês mais mortal da pandemia

Depois de um março difícil, com dezessete mortes – até então o mês mais letal da pandemia em Vassouras, um ano depois de seu início – a pandemia do novo coronavírus segue batendo recordes e gerando comoção na cidade. Até a noite da terça-feira, dia 13, já eram 22 mortos pela Covid-19 no município, sem que o mês chegasse à sua metade. Ao todo, Vassouras perdera até a terça-feira 94 moradores para a Covid. Mais que números, são dramas de pessoas conhecidas em uma cidade pequena que se acostumou a chorar seus mortos – e a se emocionar com famílias inteiras devastadas pela doença.
Ex-funcionário do Banerj, o motorista autônomo Paulo Sérgio Duarte dos Santos, 63 anos, morreu em 28 de março, depois de 12 dias internado no Hospital Universitário de Vassouras. Foi sepultado no dia 29, no Cemitério Nossa Senhora da Conceição. Três dias depois, no mesmo hospital, morria seu filho, o engenheiro Raphael Alves dos Santos, servidor público municipal e professor dos cursos técnicos da Universidade de Vassouras. Raphael passou seis dias internado. Pelas redes sociais, Felipe Augusto Duarte, filho de Paulo e irmão de Raphael, lamentou as mortes. “Meu pai, meu grande herói. Hoje está sendo um dos dias mais difíceis da minha vida”, escreveu logo após a morte do pai. Três dias depois ele voltou às redes, para registrar a dor com a perda do irmão. “Difícil acreditar que você se foi. Um irmão dedicado, bondoso, que não media esforços para ajudar as pessoas, o orgulho da família. Tínhamos tantos sonhos juntos. Sei que de onde você está, junto com nosso pai, seguirá cuidando de todos nós”, escreveu Felipe, servidor público municipal. Paulão, além de Felipe, deixa outra filha.

 

Aos 27 anos, servidora pública lotada na Creche Municipal Marianna Crioula, em Massambará, Eduarda Freire Alves Gomes, 27 anos, foi mais uma vítima fatal da Covid-19 no mês de março. Grávida de sete meses, ela não resistiu às complicações com a doença e morreu em 30 de março. Para salvar a bebezinha, os médicos do Hospital Universitário realizaram uma cesariana. A recém-nascida segue internada no CIS. Eduarda deixou o marido e uma outra filha, de dois anos. Mãe de Eduarda, Solange Regina Silveira Freire Alves, 54 anos, morreu em 6 de abril.
As tragédias familiares não param por aí. Professora aposentada da rede estadual, Elaine Duque César, mãe de três filhos adotivos, morreu em 2 de abril após sete dias internada – cinco deles na UTI Covid do HUV. Dez dias depois, morreria, na mesma UTI, a mãe de Elaine, Dirce Moraes Duque César, 72 anos. Ela passou oito dias internada.
Presidente da Associação de Moradores do Mancusi por cinco anos, o comerciante João Batista de Oliveira, 69 anos, também não resistiu à doença. Dono da mercearia mais tradicional do Mancusi, Batista morreu em 30 de março. Rodoviário aposentado, João Batista era de poucas palavras, mas apaixonado por futebol tinha grande orgulho com a carreira da filha, Jane Tavares, que hoje vive em Porto Alegre, onde joga pelo Grêmio, depois de passagens por Flamengo e Atlético Mineiro. Outro orgulho recente de Batista era a aprovação, para universidades federais, das enteadas Izabela e Bruna, filhas da agora viúva Ana Paula.
Se em março Vassouras chorou a morte de um casal de pastores, Saulo e Deise de Carvalho, no início do mês a cidade perdeu mais uma liderança protestante: o servidor público municipal Claudio Juarez da Silva, 51 anos, pastor da Comunidade Evangelística Restaurando Vidas. Ex-dependente químico, Cláudio viveu seus últimos oito anos em função de recuperar pessoas às voltas com a dependência. Fundou, ao lado da esposa, a também pastora Roxane de Mattos Marques Silva, a Associação Centro Social e Escola Restaurando Vidas, em Barão de Vassouras. Para a viúva, que garante que seguirá o legado deixado pelo marido, ao lado da enteada, Elizabeth Cristina Silva Oliveira. “A filha é o grande amor da vida. Tudo o que ele fez foi por ela. Inclusive parar de usar droga foi por ela. Um dia, no hospital, ele acordou chamando por ela”, afirma. Segundo a viúva, Cláudio foi um homem “diferente em todos os sentidos. Amável, dedicado”. Para ela, o pastor venceu a Covid, embora ele não tenha chegado a receber alta. “Ele venceu a Covid”, afirmou. O pastor morreu após uma parada cardíaca. A dor de perder um parente para a Covid-19 chegou à família do prefeito Severino Dias em 12 de abril, com a morte de seu tio, o ex-vereador Paulo Nogueira, 72 anos. Comerciário aposentado, torcedor apaixonado pelo Fluminense, Paulinho Nogueira chegou à Câmara em 1989, na eleição que elegeu o cunhado, Severino Dias (o pai) prefeito. Ao todo foram três mandatos de vereador. Pai de Paula e Felipe Nogueira, nos últimos anos Paulinho ajudava a esposa, Cláudia, em sua empresa de ornamentação de festas. Em suas redes sociais, o prefeito Severino Dias postou fotos dos encontros de família, classificou o tio como “amoroso e brincalhão” e afirmou que Nogueira talvez fosse a pessoa que mais se orgulhava de suas conquistas. Paulinho foi sepultado no Cemitério Nossa Senhora da Conceição, no Centro Histórico. Servidora municipal responsável há anos pela administração dos cemitérios municipais, Emília Santos de Souza Santana, 55 anos, também sucumbiu à Covid-19. Morreu em 30 de março. Deixa três filhos, todos maiores. Foi sepultada no município de Paty do Alferes, no cemitério de Avelar, ao lado de familiares. O cabeleireiro Mauro Santana, fundador da Barbearia Al Capone, responsável por trazer um novo conceito de barbearia para Vassouras, foi outra vítima da doença. Morreu na sexta-feira, dia 2 de abril.

• Falta espaço nos cemitérios e funerária muda escalas para atender alta demanda

 Não há registros, na história recente, de tantos vassourenses mortos em tão curto espaço de tempo. Usando como fonte os boletins publicados pela Prefeitura de Vassouras em sua página em uma rede social, a TRIBUNA DO INTERIOR levantou números assustadores. Entre meados de abril, quando morreu o primeiro vassourense vítima da Covid-19, o médico Edsneider Rocha Pires de Souza, e dezembro do ano passado a cidade contabilizou 40 mortes. Como a OMS decretou a pandemia em março, a média de 2020 foi de 4,4 mortes por mês. Os meses mais letais no primeiro ano da pandemia foram maio e dezembro, ambos com sete mortes.
A tendência de queda registrada em dezembro (o mês anterior, novembro, registrara uma morte) se acentuou em 2021. Em janeiro foram 8 óbitos, até então o mês com o maior número de mortes registradas durante a pandemia. Em fevereiro, mês que só tem 28 dias, foram sete. Os números dispararam em março, com 17 óbitos. Mas nenhum mês se compara com abril. Em apenas treze dias (esta edição da Tribuna foi fechada entre a noite da terça-feira, 13 e a tarde da quarta-feira, 14) Vassouras registrou 22 mortes.
Tantas mortes seguidas vem gerando problemas no setor funerário. Fotos da Prefeitura ampliando o Cemitério Municipal, no Campo Limpo, correram as redes sociais na semana passada. A secretária municipal de Obras e Serviços Públicos , Beatriz Rocha, confirmou a expansão do principal cemitério público do município. “Fizemos uma limpeza e abrimos espaço para a abertura de covas, porque realmente não tinha mais espaço”. Até para não assustar a população, a Prefeitura não abriu novas covas em todo o espaço aberto na ampliação, mas o cemitério agora trabalha com número elevado de covas abertas: vinte, por conta da assustadora demanda. O Cemitério Nossa Senhora da Conceição, no Centro Histórico, também sofre com a falta de espaço para sepultamentos. Responsável pelo cemitério católico, a Irmandade Nossa Senhora da Conceição já encaminhou pedido de autorização à Prefeitura para construir gavetas, a exemplo de cemitérios de cidades maiores, o que daria a possibilidade de se acomodar um maior número de mortos em um menor espaço. 

 Principal funerária da cidade, a Eterna Saudade se esforça para se adaptar à nova realidade de Vassouras. “Março foi o mês que estabeleceu um recorde, com um aumento de 50 % em relação à média de óbitos mensais em Vassouras”, reconhece o administrador de empresas Wagner do Valle, um dos diretores da funerária. Ele afirma que foi necessária uma mudança nas escalas de trabalho para atender a demanda. “Foi necessária uma adequação das escalas de trabalho para o atendimento à nova demanda. Nossa equipe também foi treinada para atuar nos casos de morte por Covid, a fim de garantir a contenção da disseminação do vírus, oferecendo mais segurança à população”.
Ele lembra que o setor funerário também sofre o impacto psicológico da pandemia. “Assim como os profissionais de saúde, o setor também está na linha de frente da luta contra o coronavírus. A pandemia causa um impacto psicológico também nos nossos colaboradores. Mesmo assim, atuamos com total profissionalismo, respeito, humanização e, sobretudo, fé em dias melhores”.

Falta espaço nos cemitérios e funerária muda escalas para atender alta demanda

Comentários

2 respostas

  1. Misericórdia Senhor por todos que estão na linha de frente dessa terrível doença. Nós realmente estamos sofrendo com tantas vidas que se foram , rezemos para o fim dessa doença e pedindo por todos que tem que sair de suas casas para trabalhar. É muito triste ver nossos amigos e conhecidos que com saúde pegaram covid e se fora.
    Fica meus sinceros sentimentos por todos os familiares e que Deus nos abençoe ????????

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