Médicos radicados em vários estados do país levaram emoção ao auditório Severino Sombra
Quando eles chegaram a Vassouras, a Broadway não existia. A Avenida Expedicionário Osvaldo de Almeida Ramos era leito da estrada de ferro e o próprio Osvaldo Pombinho ainda era chofer de praça, dirigindo seu taxi pelas empoeiradas ruas de Vassouras. A Faculdade de Medicina de Vassouras engatinhava, o hoje Hospital Universitário ainda não havia sido criado quando esses meninos e meninas, munidos do sonho de serem médicos, chegaram na velha cidade no início do segundo semestre de 1970. Sexta-feira, dia 5, acompanhados de esposas, maridos, filhos, netos e até bisnetos, aqueles estudantes celebraram, no auditório Severino Sombra, no campus da hoje Universidade de Vassouras, os 50 anos da VI Turma, batizada de Turma Prof. Dr. Jair Pereira Ramalho, em uma cerimônia simples e emocionante.
O encontro dos formandos de 1975 foi o sexto realizado em 2025. Semana passada, médicos formados em 1995 comemoraram as três décadas de profissão revisitando Vassouras. Os encontros movimentam os hotéis, promovem o reencontro de amigos que um dia deixaram suas cidades para começar uma nova história em uma cidade desconhecida para a esmagadora maioria deles. O curso de Medicina tem esta peculiaridade: os estudantes dividiam com os colegas mais que um curso, mas experiências inesquecíveis de um momento mágico da juventude, a vida longe da casa dos pais e toda a preparação para assumirem a carreira que viria a lhes definir no futuro. Não por acaso são os antigos estudantes de Medicina os que mais procuram a Extensão da Universidade para realizar o encontro de egressos. “Temos muito prazer em receber nossos egressos, nossos ex-alunos. Eles fazem parte da nossa história. Eu sempre falo para quem trabalha comigo que se hoje a Universidade de Vassouras é essa potência, reconhecidamente uma das maiores instituições de ensino do Rio de Janeiro, é porque lá atrás muita gente acreditou no sonho do general Sombra, como esses alunos que se formaram em 1975”, comenta a professora Consuelo Mendes, pró-reitora de Extensão.

O professor Severino Sombra, aliás, é um personagem sempre lembrado nos encontros dessa geração de estudantes. Os antigos alunos sempre exaltam o fato de terem tido aulas com o general, sempre lembrado como um intelectual visionário e preocupado com uma educação humanista na instituição que criou. “Nelson Camargo, da primeira turma, sempre fala sobre isso e é verdade: Severino Sombra sempre primou pela educação humanista e foi isso que aprendemos aqui em Vassouras, uma medicina humanista”, comentou o orador da turma, Celedeston Farah, citando o colega da primeira turma, que veio a Vassouras celebrar os 50 anos da formatura do irmão, Ibiracy, e da esposa, Mariangela Jurado, que ele começou a namorar quando os dois ainda eram alunos da Medicina de Vassouras. “Começamos a namorar a partir de um encontro em frente ao Paquera´s”, comenta Nelson, citando a icônica lanchonete vizinha à agora restaurada Casa do Barão de Vassouras, que marcou época e não existe mais.
As turmas mais antigas vibram com o crescimento da instituição em que estudaram. “Quando chegamos aqui, viemos estudar em um casarão antigo e hoje vocês têm uma instituição moderna, estruturada”, discursou Cledeston, interagindo com a acadêmica Camille Freitas de Araújo, atual presidente do Centro Acadêmico Fróes da Fonseca, integrante da Turma 105 da Medicina. Nelson Camargo, dois anos atrás, falou, ao lado de outros colegas, sobre a experiência de ter sido pioneiro no podcast Direto do Campus, produzido por ocasião dos 50 anos da formatura da primeira turma, que pode ser conferido no canal do youtube da Universidade de Vassouras. A Extensão da universidade se mobiliza para receber os egressos. A mobilização para receber quem chega aos 50 anos, no entanto, é especial e conta com o apoio da Gerência de Marketing e Comunicação. “É muito especial para gente receber de volta alunos que se formaram cinco décadas atrás. Mexe muito com a nossa emoção e dá sentido para o que fazemos hoje na universidade”, comenta Consuelo Mendes. “Nós já temos encontros marcados para 2026. O encontro de hoje está agendado desde fevereiro”, afirma Jéssica Paixão, que atua na Extensão e interage diretamente com os egressos.
Um dos momentos mais emocionantes desses eventos é lembrar daqueles que se foram antes e não podem celebrar, fisicamente, os 50 anos de formatura. Com a Turma VI não foi diferente. Entre os colegas que estão em outro plano, nomes como o do médico Horácio Tavernard dos Santos, que construiu uma carreira de destaque em Vassouras e hoje batiza uma unidade de saúde no município, e Pedro Paulo Mexas, que mais tarde dirigiria o próprio curso de Medicina de Vassouras. “Pedi para falar, para registrar que Pedro Paulo Mexas, que por tantos anos se dedicou à universidade como diretor do curso de Medicina, foi nosso colega na Turma VI”, lembrou o médico Ibiracy Camargo. “Cheguei a trabalhar com o Pedro Paulo. Ele era apaixonado pela Medicina e pela instituição. Tenho certeza que ele está presente conosco”, comentou Consuelo.
Nas conversas, lembranças daqueles anos 1970. Das aulas de professores icônicos, dos discursos inesquecíveis de Severino Sombra, das noites de lazer no Fluminense Futebol Clube e na Sociedade Musical Recreio Vassourense. Do trem que ainda chegava e partia da estação ferroviária, do antigo prédio da Medicina, que hoje abriga o PIM, das charretes que faziam ponto na rua da feira. Uma Vassouras que não existe mais, mas que estará para sempre na memória desses médicos que, meninos e meninas, ajudaram a fazer da cidade histórica, também uma cidade universitária.
