23:41 - 11 de julho de 2025.

Irmandade da Santa Casa de Vassouras tem novo prov...

Irmandade da Santa Casa de Vassouras tem novo provedor

 em Vassouras

Jorge Carlos Pereira assume o cargo de provedor interino; Soraia é destituída por suspeita de irregularidades; ela nega e diz que recorrerá da decisão

 

Após 14 anos como provedora da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Vassouras, Soraia Setaro foi destituída do cargo, em uma assembleia realizada no último dia 2, no Bliss Hotel. Responsável pela gestão dos bens deixados em testamento por Eufrásia Teixeira Leite, morta em 1930, o conselho da instituição afastou Soraia depois de uma votação. Das 72 pessoas que compõem o conselho, 32 foram a favor e 12 contra a destituição. Os demais não votaram. Quem assumiu interinamente foi o conselheiro Jorge Carlos Pereira, presidente do Conselho da Administração.

Soraia está sendo investigada por suspeita de irregularidades na administração. Ela negou as acusações e garantiu que vai recorrer da decisão. Caso não haja reversão da decisão do conselho, Jorge Carlos Pereira permanecerá no cargo até a eleição do novo provedor, marcada para o primeiro domingo de dezembro.

Entre as irregularidades encontradas na gestão da Irmandade, constam uma denúncia de falsificação de uma ata de uma reunião do Conselho de Administração que teria permitido a Soraia Setaro nomear um tesoureiro não aprovado pelo próprio conselho. Os irmãos questionam ainda o fato de a Irmandade ter assinado um contrato com uma OS sem a aprovação do Conselho de Administração.

Em março, o mesmo Conselho se reuniu e julgou a proposta da OS inconsistente. A empresa foi apresentada como Instituto Dr. Wilson Seidler. Os conselheiros descobriram que o nome não estava vinculado ao CNPJ apresentado. Seidler seria um médico, já falecido.

“Não existem referências na internet ao seu nome ligado a nenhum instituto, então achamos estranho. Só encontramos referência à pessoa física. O contrato trazia um telefone de contato que era de pessoa com vínculo público com a Prefeitura de Volta Redonda, o que também levantou questionamentos no Conselho. Na proposta encaminhada pela provedora ao Conselho, não havia qualquer prova da atuação da empresa na área de saúde, assim como também nenhuma prova da capacidade financeira dessa empresa”, resume um conselheiro ouvido pela TRIBUNA.

Há ainda denúncias quanto à postura da provedora em uma ação que culminou com a usucapião de um imóvel da Irmandade no Centro Histórico em favor do noivo de Soraia, Hiago Athayde. A TRIBUNA DO INTERIOR teve acesso a documentos, atas e registros de conversas por aplicativo de mensagens. Um imóvel da Irmandade localizado na Rua Ministro Edgard Costa, no coração do Centro Histórico, é um dos objetos da denúncia contra a provedora. Por décadas ele foi alugado à uma senhora. Após o falecimento da inquilina, ele foi alugado por um curto período a uma nova família.

Quando o imóvel ficou vago novamente, um processo de usucapião em favor de Hiago Athayde, noivo da provedora, foi movido. O processo culminou com o imóvel sendo negociado por 200 mil reais, uma quantia bem abaixo que o valor de mercado para imóveis na região. Segundo vizinhos, o imóvel passa por uma robusta obra de revitalização e o novo proprietário, Hiago, nunca teria morado na residência. Os irmãos ainda argumentam que não é possível comprovar que os 200 mil reais tenham sido pagos integralmente à instituição.

 

Soraia se defende

Em vídeo enviado à Imprensa, Soraia Setaro afirma que recorreu da decisão e que as denúncias relacionadas a ela não procedem. “Eles filtraram o que eu poderia falar e lamento a forma como foi feito. Estou muito preocupada com o destino, em especial do nosso hospital, que está sendo administrado por um grupo que investiu muito dinheiro ali e que vai colocar a unidade hospitalar para funcionar ainda em setembro deste ano”, ressaltou Soraia.

A defesa de Soraia afirma ter ido para a reunião sem ter ciência das denúncias e que tal situação prejudicou a defesa da provedora destituída. Advogados de Soraia afirmam ainda que o tempo dado para que a ex-provedora se defendesse, um total de oito minutos, não foi suficiente para esclarecer todos os itens de supostas irregularidades relacionadas pelos conselheiros. “Todas as acusações não tiveram trânsito julgado em decisão judicial e nem sentença e, por isso, não podem ser aceitas e vamos restabelecer a justiça desta situação”, completou a defesa.

 

Fortuna de Eufrásia

Pioneira no investimento autônomo no mercado financeiro brasileiro, Eufrásia Teixeira Leite acumulou um patrimônio que, segundo estimativas de historiadores, ultrapassaria R$ 1 bilhão nos valores atuais. A aristocrata herdou a fortuna dos pais ainda no século XIX e passou a administrá-la com rigor. Investiu em ações de ferrovias, companhias de energia e mineradoras na Europa.

Foi reconhecida pela ONU como a primeira mulher a investir na bolsa de valores brasileira. Morreu lúcida, ainda à frente de seus negócios, em 1930, na cidade do Rio, por problemas recorrentes nos rins. Nunca se casou e nem teve filhos. A socialite morava em um luxuoso apartamento em Copacabana, que, segundo os mais próximos, sempre foi rodeada de funcionários. Deixou um testamento detalhado, em que determinava a aplicação de sua riqueza em projetos sociais, sobretudo em sua cidade natal.

Entre as obras viabilizadas com a venda de apólices e ações, surgiram o Colégio Regina Coeli — voltado para meninas órfãs —, um instituto profissionalizante, que mais tarde se tornaria uma unidade do Senai, e o Hospital Eufrásia Teixeira Leite. Todos foram erguidos em terrenos que pertenciam à família. A principal herdeira de sua fortuna foi a Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Vassouras, que recebeu também a parte originalmente destinada ao Colégio Salesiano de Santa Rosa, em Niterói, após a recusa da instituição em cumprir as exigências testamentárias. Além disso, valores menores foram destinados à Fundação Oswaldo Cruz, a empregados, parentes e até mesmo a pessoas em situação de rua em Paris, onde Eufrásia viveu parte da vida.

Com o tempo, parte do patrimônio se desvalorizou. Os rendimentos que sustentariam os projetos sociais foram corroídos por décadas de inflação e má gestão. Hoje, os imóveis históricos enfrentam problemas sérios de conservação. O antigo colégio está desativado, o instituto profissionalizante ocupa um terreno tomado pelo mato, e o hospital — o maior dos edifícios — exibe sinais visíveis de abandono, com infiltrações, umidade e criadouros de insetos.

O testamento da aristocrata previa fiscalização rigorosa do cumprimento das cláusulas, inclusive por parte do juiz e do promotor da cidade. Eufrásia especificou não apenas os valores, mas também os fins de cada aplicação, deixando registrado o desejo de que sua fortuna fosse usada para promover educação, saúde e melhores condições sociais em Vassouras.

 

Foto: reprodução redes sociais Vereado Juninho Gama

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