13:37 - 21 de agosto de 2025.

Chegando a hora do vassourense matar a saudade (e ...

Chegando a hora do vassourense matar a saudade (e a curiosidade)

 em Cultura

Obras só devem terminar em alguns meses, mas pré-inauguração do Museu de Vassouras acontece no final do mês, com a presença do presidente do STF

 

As obras ainda duram algumas semanas, talvez poucos meses. Faltam detalhes para que a obra que vai transformar as ruínas do antigo asilo no mais moderno museu do Vale do Paraíba esteja completamente concluída, mas o vassourense está muito perto de matar a saudade de um dos prédios mais icônicos de seu Centro Histórico, tombado como patrimônio histórico nacional em 1958.

A ideia dos administradores do Museu é abrir o espaço à visitação pública no domingo, 1º de setembro. No sábado, dia 30, uma pré-inauguração aberta a autoridades deve contar com as presenças do governador Claudio Castro e do presidente do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso. Vassourense, Barroso foi criado na outra margem da Praça Barão de Campo Belo, na Rua Ministro Edgar Costa.

Inaugurado em 1858, de propriedade do Barão do Amparo, o prédio abrigou o primeiro hospital do município: a Santa Casa de Misericórdia. Durante décadas funcionou como o Asilo Barão do Amparo. Após um grande incêndio, em 2008, o prédio chegou a estar em ruínas. O empresário Ronaldo Cezar Coelho precisou negociar muito para comprar o imóvel da Irmandade Santa Casa de Misericórdia. Fundador do Instituto Vassouras, ele comprou o prédio já com o objetivo de fazer a restauração e estabelecer ali um moderno museu.

O Museu Vassouras será um dos mais importantes aparelhos culturais do Vale do Paraíba. O mais moderno, sem dúvida. A partir de diversas atividades culturais vai contar, para Vassouras e para o mundo, a história do Vale do Café. “Saindo das grandes narrativas, queremos que o público conheça o Vale pela sua história viva”, declarou Catarina Duncan, diretora artística do Museu em entrevista à TV Rio Sul. O acervo do museu terá como foco contar a história da região a partir dos povos indígenas, dos africanos escravizados e dos portugueses que formaram a identidade do Vale do Café e do próprio Brasil.

Empolgado com a fase final da obra, Ronaldo Cezar Coelho recebeu, há duas semanas, a prefeita Rosi Silva e o presidente da Fundação Severino Sombra, Gustavo Amaral, para uma visita técnica. Mostrou a eles cada detalhe do Museu, com destaque para o Memorial Judaico, que fica nos jardins do imóvel. Naquele espaço foram enterrados Benjamin Benatar e Morluf Levy, em 1859 e 1878, respectivamente. Marroquinos, eles foram os primeiros judeus enterrados em solo católico no país. Na época, apenas cristãos poderiam ser sepultados em cemitérios cristãos. Em seu leito de morte, Benatar negou a possibilidade de conversão ao cristianismo e ficou dias insepulto, até que a Santa Casa de Misericórdia cedeu o espaço anexo ao hospital para que fosse realizado o enterro. O gesto de tolerância religiosa é mais uma evidência de que a história de Vassouras e do Vale vai muito além das narrativas de décadas atrás, sobre Cidade dos Barões ou Princesinha do Café. Nos anos 1990, um historiador judeu pôs o espaço novamente em evidência e o espaço, doado pela Irmandade, se transformou no Memorial Judaico, que teve projeto paisagístico assinado por ninguém menos que Roberto Burle Marx. O historiador em questão era Egon Wolff. Hoje, ele e a esposa, Frida Wolff, que atuou na pesquisa ao lado do marido, estão sepultados também no Memorial.

São essas e outras histórias que o Museu Vassouras espera contar para as novas gerações de vassourenses e turistas. Na praça que é cartão-postal do Vale, com muita tecnologia, o Museu vai falar do passado, olhando para o futuro. E mostrar que Vassouras é o berço da civilização que se formou neste pedaço ao sul do planeta. A cidade que nasceu na época em que o Brasil que conhecemos hoje se inventava, com enorme contribuição negra e indígena.

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