Com investimento de aproximadamente R$ 19 milhões do Governo Federal e Prefeitura de Vassouras, casarão será um novo centro cultural
Durante anos, a vizinhança do Solar Barão de Vassouras conviveu com a deterioração silenciosa de um dos mais importantes símbolos da história local e nacional. A cada período de chuvas intensas, novos trechos das paredes de pau a pique do casarão da primeira metade do século XIX se perdiam, agravando o estado de ruína do imóvel, antiga residência de Francisco José Teixeira Leite, situado no coração do Centro Histórico.
Do conjunto original, restava praticamente apenas a fachada. O interior encontrava-se comprometido pela ação do tempo, pela infestação de cupins e pela proliferação de mosquitos, que passaram a invadir as casas vizinhas, gerando preocupação e transtornos à população do entorno. Tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e incluído no Programa de Aceleração do Crescimento das Cidades em 2013 durante o governo Dilma, o imóvel chegou a viver um período crítico, com risco real de colapso estrutural.
Esse cenário de degradação evidenciava a urgência de uma intervenção capaz de interromper a perda contínua de um patrimônio histórico fundamental para Vassouras e para o país. Após anos de expectativa e articulação institucional, começados lá em 2013 pelo então prefeito Renan Vinicius, os esforços de preservação finalmente avançaram: dia 17 de dezembro, foi entregue à Vassouras a primeira etapa das obras de restauração da Casa. A intervenção foi realizada com recursos do Novo PAC, executada pela Prefeitura de Vassouras e acompanhada tecnicamente pelo IPHAN.
O conjunto histórico, urbanístico e paisagístico de Vassouras é tombado pelo IPHAN desde 1958 e inclui o principal cartão postal da cidade, a Praça Barão de Campo Belo. É no entorno da praça que está localizada a Casa Barão de Vassouras, entre outras construções que fazem parte do patrimônio cultural da cidade e atrai turistas de todo o país.
Investimento e Restauração
O investimento, de aproximadamente R$ 19 milhões, sendo R$ 11 milhões via PAC Cidades Históricas/IPHAN; R$ 6 milhões vindos de recursos do BNDES / ICCV (Instituto Cidade Cultural Viva) e R$ 3 milhões de contrapartida da Prefeitura de Vassouras, possibilitou a recuperação do imóvel, incluindo a reconstrução de trechos estruturais com técnicas originais, a restauração do quarto do Barão, a recuperação de azulejos portugueses históricos e o restauro das esquadrias. A residência integra o Conjunto Arquitetônico e Urbanístico de Vassouras e foi palco de episódios relevantes da história nacional, como a assinatura do contrato da antiga Estrada de Ferro D. Pedro II, hoje conhecida como a famosa Central do Brasil.
Inauguração
Numa manhã concorrida, a entrega do Casarão para a cidade contou com nomes de peso da política e cultura nacional. Com apresentação de Jongo e do PIM, estiveram presentes na inauguração a secretária de articulação federativa e comitês de cultura, Roberta Cristina Martins representando a Ministra Margareth Menezes; o presidente substituto do IPHAN, Deyvesson Gusmão; o diretor de ações estratégicas do IPHAN, Daniel Sombra; o secretário municipal de urbanismo e patrimônio histórico de Vassouras, Marcelo Estevão; a superintendente do IPHAN-RJ, Patrícia Wanzeller; o chefe do escritório técnico no médio Vale do Paraíba, Ivan Mascarenhas, a gerente de desenvolvimento cultural do BNDES, Patrícia Zendron; a Prefeita de Vassouras, Rosi Silva, além de vereadores da cidade.

Aclamação
Isabel Rocha, técnica aposentada do IPHAN e vice-presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio de Janeiro, mais conhecida como “a mulher do patrimônio”, foi ovacionada pelo público.
Foi ela quem inaugurou o escritório técnico do IPHAN em Vassouras, em 1984. Enfrentou o machismo e uma classe dirigente pouco habituada às pautas da preservação. Ao longo de quatro décadas, embargou obras, contrariou interesses e sustentou embates difíceis. Hoje, ao caminhar pela cidade e ver tantos prédios restaurados, é impossível não reconhecer que grande parte dessa paisagem preservada existe porque ela insistiu em executar de forma brilhante seu trabalho.

Jongo
A apresentação da roda de jongo, conduzida pelos mestres Cláudia Mamede e Pretinho (Vassouras), Fatinha (Pinheiral), Edgar (Arrozal) e Adriane (Barra do Piraí) emocionou autoridades e moradores. Em sua fala, Mamede destacou o momento como um marco histórico:
“Hoje estamos vivendo um momento de resgate. Sinto que hoje, jongo e patrimônio estão caminhando juntos. Quando vemos os casarões sendo reinaugurados e nós, entrando espontaneamente pela porta da frente, cantando, dançando, livres, sendo homenageados, isso é sinal de que toda luta, toda resistência está valendo a pena”.

Centro Cultural Multiuso
A entrega da obra marca o início de um projeto mais amplo, que prevê a transformação do casarão em um centro cultural multiuso, voltado à valorização das manifestações culturais locais, como o Jongo, reconhecido como Patrimônio Cultural do Brasil. A gestão do espaço, a formação de agentes culturais e a implantação de ações de educação patrimonial fazem parte do Projeto Cultural do Instituto Cultural Cidade Viva, aprovado pela Lei Rouanet e atualmente em fase inicial de implementação.
