03:56 - 27 de julho de 2024.

Em depoimento à Tribuna, Gustavo Amaral lembra tra...

Em depoimento à Tribuna, Gustavo Amaral lembra trajetória ao lado de Marco Capute

 em Vassouras

A reportagem da TRIBUNA DO INTERIOR esteve com o empresário Gustavo Amaral, vice-presidente da Fundação Educacional Severino Sombra.

Amaral destaca a importância de Marco Capute para a Fusve, para Vassouras e a lacuna que fica com a sua morte. O
texto, preparado a partir de um depoimento de Gustavo, traça a trajetória do empresário com o vassourense quase duas décadas mais velho, que muitas vezes fez papel de “irmão mais velho, pai e conselheiro”.

Gustavo Oliveira do Amaral assumiu a vice presidência da entidade por indicação de Marco Capute, em maio de 2012. Nesses quase onze anos, participou diretamente da guinada que tirou a Fusve do quadro pré-falimentar para se transformar sinônimo de prosperidade em Vassouras e região.

No texto, ele compartilha com o leitor o que foi estar ao lado de Capute em um momento tão especial para a Fundação e para Vassouras. Ele lembra o carinho do amigo com a cidade natal dos dois. “Ele me dizia: ‘Você vai
ver no futuro como vai ser prazeroso a gente estar fazendo pela nossa cidade’. Porque ele gostava muito de Vassouras. Você falava pra ele viajar, ele te respondia: ‘eu já viajei, pra mim o bom é a minha casa’. Ele gostava era de andar na rua de short, de chinelo, todo à vontade. Ele foi pra Vassouras, o ícone deste século. Comparando de novo com o futebol. O Pelé foi o ícone do século XX, o Messi é o cara do século XXI. O general Sombra foi o ícone do século XX, criou a Fundação. O Marco foi o homem do século XXI em Vassouras”.

No depoimento de Gustavo, o leitor vai conhecer a história do primeiro 13º salário pago aos funcionários da Fusve
em dezembro de 2012. O dinheiro em caixa não era suficiente para o pagamento e Marco emprestou à Fundação
um milhão de reais para honrar o compromisso com os trabalhadores. “Nunca tinha visto um cheque de um milhão. Tirei até uma foto para guardar”, brinca, lembrando que Capute usou o episódio para motivar o companheiro de gestão. “Você vai me pagar? É você que vai ter de dar a cambalhota para me pagar. Hoje eu entendo que ele queria
me motivar, criar senso de responsabilidade”.

 

 

“Marco Capute é insubstituível” – Gustavo Amaral

Conheci o Marco desde criança. Vassourense, ele jogando bola, jogando vôlei no Country Clube. A gente tem uma diferença de idade em torno de 18 anos. Quando ele foi para a BR Distribuidora, a gente teve uma aproximação.
Fui pedir a ele um auxílio. Eram tempos difíceis, complicados, e eu começava a administrar os postos da família.
Minha mãe sofria ainda a perda do meu irmão, papai já falecido também e mamãe estava sozinha a frente de três postos. Aí o Capute me recebeu lá. Um encontro através de um pedido do Zé Maria. Me recebeu com o pessoal da Gol. Eu cheguei ele interrompeu, imagina, a reunião com o pessoal da companhia aérea, o pessoal do Nenê Constantino. Acho até que ele prestigiou mais a mim que o pessoal da Gol. O Capute tinha esse dom: tratava o faxineiro da BR e o presidente da Gol da mesma forma.

Dali pra frente a gente se aproximou muito. Ele tinha me visto pequeno, garoto e depois me viu ali, começando a
minha vida profissional em uma fase mais empresarial. Eu digo que antes a gente era comerciante. Depois que
eu passei uma temporada no Rio, trabalhei em banco multinacional, é que começa a minha carreira empresarial. Nessa época o Marco disse que eu era um cara que poderia contribuir com Vassouras. Mas a gente não tinha ideia de Fundação, né? “Quando aposentar a gente vai montar um negócio junto”, ele dizia. E a nossa conversa começou assim.

Ele voltou para Vassouras, aposentado. E a gente teve uma reunião lá no posto. A gente pensava em fazer uma
parceria. A gente chegou a começar essa conversa. Passaram-se seis meses, não chegou a um ano, surgiu a possibilidade dele entrar na Fundação. Conselheiros, estudantes, funcionários foram pedir para ele se candidatar.
E ele anunciou que eu viria com ele. Eu achei que ele estava brincando. No primeiro momento ele me chamou para ser diretor administrativo-financeiro. Pró-reitor na época, que era o nome que eles davam. Depois virou diretor. Em seguida, me chamou para ser o seu vice-presidente. “Você vai entrar comigo, vai ficar comigo. Não sei quando é que a gente sai daqui. Vamos em frente”.

Nestes doze anos, a nossa relação, a nossa amizade se estreitou a tal ponto, que a gente criou uma coisa de família. Não tem isso? Essa relação familiar sem sangue, você cria esta relação familiar muito mais pela amizade, pela parceria. O Marco virou um irmão mais velho, em alguns momentos paizão. Um conselheiro, um tutor. Sempre a gente trocando. É uma perda para a cidade que eu não sei dimensionar isso no momento. Eu sei que é uma perda assim… As pessoas falam que ninguém é insubstituível, mas ele é um cara insubstituível.

A futura gestão pode fazer um bom trabalho, não é que seja vedado isso, mas vai ser de outra maneira. Acho que caberá à Fundação, de uma maneira geral, zelar pelo legado dele. Mas ele é insubstituível. Quem vier a ocupar o
cargo vai ter de levar em conta os ensinamentos dele. Não fazer acepção de pessoas, ter todas as vertentes aqui dentro, seja de cunho ideológico, seja de classe social. O Marco era um cara que pensava muito no povo. Nas classes sociais menos privilegiadas. Ele tinha muita preocupação com os mais pobres. Festa na casa dele, entrava todo mundo. Ele tinha empatia.

As discussões técnicas com o Marco desafiava a inteligência de qualquer pessoa. Você sai de uma reunião técnica com o Marco, você precisa estudar em casa para se colocar à altura da discussão. Isso te desafia. Isso te faz crescer. Raciocínio matemático, visão, prospecção de futuro. Cara visionário. Quantas vezes ele apresentava uma ideia e a gente não conseguia acompanhar, ficava com medo. E depois ele convencia a gente que era o melhor a fazer e o resultado vinha.

Foram doze anos de muita luta. Doze anos desde o retorno dele a Vassouras. Ele completaria onze anos de Fundação em maio. Principalmente nos primeiros três anos , a gente sofreu muito aqui dentro. E sofremos juntos. Ele teve a capacidade de liderar, de manter o grupo unido, de manter todo mundo motivado. Ele chegou a aportar recursos próprios no início da gestão. A Fundação não tinha dinheiro para pagar o 13º salário dos funcionários. Poucos
sabem desta história. Ele colocou um milhão de reais para pagar o 13º. Quando saiu do banco ele falou pra mim (eu nunca tinha visto um cheque de um milhão, fiz até uma foto para guardar): “Você vai me pagar”? Eu disse que
ele que era o presidente. “Não, é você que vai gerir, é você que vai ter de fazer a cambalhota para me pagar. Estou confiando em você”. É claro que ele que era o presidente, ele poderia resolver. Mas ele queria botar uma motivação especial em mim, um senso de responsabilidade. Me engajou de tal forma que eu vinha todo dia pensando: eu tenho de pagar o Capute. E aquilo me assombrou, nos anos seguintes, enquanto eu não paguei o Capute. E isso tirou o melhor de mim. Depois eu entendi o objetivo dele.

A Biblioteca da Medicina, a gente precisava atualizar a biblioteca da Medicina. Naquele momento, o nosso cartão (da
Fundação) não passou. Compramos 349 mil reais em livros. A compra foi feita no cartão dele. “Você vai me pagar de novo, né?”

Quando ele foi pro Estado (Nota da Redação: Marco Capute foi secretário estadual de Desenvolvimento Econômico entre 2016 e 2018), ele me chamou: você vai ser o superintendente geral na minha ausência. Só eu e ele dentro daquela sala, lá na estação. “Não estou fazendo isso porque eu gosto de você. Pelo contrário, se eu soubesse que iria te queimar, por gostar de você, ofereceria o cargo a outra pessoa”. Eu ainda argumentei que tinha gente há mais tempo na Fundação. Mas ele disse que me convidava por confiar na minha capacidade.

O Marco foi muito importante pra mim. Ele fez eu me reciclar. Eu estava em um ponto da minha carreira, que eu
tinha chegado ao máximo nas minhas coisas, nos meus negócios. Eu tinha perdido maiores ambições, estava tocando
bola, pra usar um termo do futebol, esperando o jogo acabar. E o Marco acendeu a chama em mim. Ele teve essa capacidade. Eu devo isso a ele. Tenho muito a agradecer a esse cara. E ele me dizia. “Você vai ver no futuro como vai ser prazeroso a gente estar fazendo pela nossa cidade”. Porque ele gostava muito de Vassouras. Você falava pra ele viajar, ele te respondia: “eu já viajei, pra mim o bom é a minha casa”.

Ele gostava era de andar na rua de short, de chinelo, todo à vontade. Ele foi pra Vassouras, o ícone deste século.
Comparando de novo com o futebol. O Pelé foi o ícone do século XX, o Messi é o cara do século XXI. O general Sombra foi o ícone do século XX, criou a Fundação. O Marco foi o homem do século XXI em Vassouras.

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